Pela primeira vez, escolas indígenas recebem formação em empreendedorismo em MS

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Em Amambai, município com a maior população indígena do estado, escolas são capacitadas com metodologia do Sebrae em educação empreendedora

A cidade de Amambai, a 354 km de Campo Grande, é a que possui a maior população indígena de Mato Grosso do Sul, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Neste município, o Sebrae levou, pela primeira vez no ano passado, noções em empreendedorismo para quatro escolas indígenas, tendo alcançado 350 estudantes. Mais do que números, o trabalho fez a diferença na vida dos alunos, que sabiam da importância da sua cultura, mas, descobriram como transformá-la em uma fonte de oportunidades e geração de renda.

MS é o 2º do país em número de habitantes indígenas, com mais de 73 mil pessoas. São oito etnias no estado, e em Amambai, a Guarani Kaiowá é uma das predominantes. Na cidade, as escolas municipais Mitã Rory, Polo Indígena Mbo’Eroy Guarani Kaiowá e Mbo’erenda Ypyendy, na Aldeia Amambai, e Polo Indígena Mbo’ Erenda Tupã I Ñandeva, na Aldeia Limão Verde, receberam em 2021 a metodologia Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), realizada pelo Sebrae por meio do programa Cidade Empreendedora, executado junto à Prefeitura Municipal para transformar a economia local.

A metodologia do JEPP é voltada para o Ensino Fundamental e busca incentivar o espírito empreendedor, tanto nos anos iniciais, do 1º ao 5º, quanto nos finais, do 6º ao 9º. Com cada turma, o empreendedorismo é abordado de uma forma diferente. “É a primeira vez que atendemos escolas indígenas, com professores e estudantes indígenas. A metodologia do JEPP é lúdica, o que permite aos professores ajustá-la para a realidade da comunidade e isso foi muito bem utilizado nessas escolas. A entrega do trabalho utilizou a cultura e regionalidade dessas aldeias”, explica a gestora estadual do programa de Educação Empreendedora do Sebrae/MS, Priscila Veloso.

As ações deste ciclo encerraram no dia 25 de novembro, culminando com a realização da feirinha do JEPP, uma mostra dos produtos confeccionados pelos alunos. Segundo a técnica da Secretaria Municipal de Educação, Miléia Martins Piassa Dondoni, cada feira foi realizada em cada escola, que já atuava à época de forma escalonada, para evitar aglomerações por conta da pandemia de Covid-19. Mesmo assim, foi um momento único para estudantes e professores, que se empenharam na comercialização das mercadorias.

“O entusiasmo das crianças vendendo seus produtos era de ‘encher os olhos’. Teve escola indígena que fez produto de limpeza, tivemos feira de ervas, temperos, flores. Tivemos venda de artesanato. Teve escola que fez barraca e colete para seus ‘vendedores’. Teve escola que, com o dinheiro arrecadado com a venda dos produtos, fez piquenique. É importante ter essa formação, porque eles precisam entender todo esse processo de criar, de ver esse resultado, que todo mundo é capaz de empreender, de conquistar tudo aquilo que tem vontade”, destacou a técnica.

Estudantes e professores relatam experiências

Na época, cursando o 5º ano do Ensino Fundamental, a aluna Camila Souza Cavalheiro, da E.M. Mitã Rory, comentou que o empreendedorismo fez a diferença em sua vida. “Estou aprendendo muito com o projeto Jovens Empreendedores. Entendi que preciso acreditar em mim para realizar meus sonhos, ter força de vontade e pensar no bem da minha comunidade”.

O depoimento dela é compartilhado com o Jhonler Cavalheiro Vasques, então estudante do 7º ano da E.M. Mbo’Eroy Guarani Kaiowá. Para ele, também há essa compreensão de o empreendedorismo pode impulsionar a comunidade. “O projeto mostrou que nosso artesanato tem valor. Temos como ganhar dinheiro com isso e ajudar no sustento de nossa família”, disse.

Para os professores, ministrar o conteúdo significou estimular os alunos a buscarem seus sonhos. “A partir do momento em que comecei a trabalhar o projeto, vi a possibilidade de mostrar até onde eles são capazes de chegar para atingir seus sonhos e suas metas. Têm sido de grande importância as discussões, opiniões, listas, momentos com jogos, pois, servem de incentivo a refletirem, a não gastarem seu dinheiro indevidamente, a terem consciência de que precisam trabalhar, organizar suas finanças e planejar para que tenham um futuro melhor”, declarou Moises Chamorro, docente da E.M. Mitã Rory.

O diretor-adjunto da E.M. Polo Indígena Mbo’ Erenda Tupã I Ñandeva, Josiel Martins, reforça a importância desta formação para a aldeia. “Este projeto vem estimular os nossos alunos a conhecerem um pouco sobre empreendedorismo, complementando seus conhecimentos. Na escola, o 8º ano A e 9º ano A, participantes do projeto, tiveram a oportunidade de criar ideias e pequenos negócios, podendo contribuir com a nossa comunidade, Aldeia Limão Verde”.

O JEPP também foi replicado em outras seis escolas de Amambai, não indígenas, localizadas em áreas urbanas. A metodologia integra as ações do programa de Educação Empreendedora do Sebrae/MS, que atingiu um recorde de atendimentos em Mato Grosso do Sul no ano passado: mais de 25 mil estudantes puderam aprender sobre empreendedorismo em sala de aula.

“Acredito no incentivo para que esses estudantes tenham contato com o mundo do empreendedorismo e que consigam vislumbrar possibilidades de empreender, na sua própria vida, na sua comunidade, na sua aldeia. Eles conseguem ver que dentro da própria cultura deles, existe uma possibilidade de ganho, de aumentar a renda da família. É uma honra poder participar dessa mudança dentro da realidade local”, finaliza a gestora estadual do programa de Educação Empreendedora do Sebrae/MS, Priscila Veloso.

Em 2022, o trabalho em Amambai será retomado com o início do ano novo letivo. Para mais informações sobre o programa Cidade Empreendedora, acesse o portal cidadeempreendedora.ms.sebrae.com.br.